Quem traduz a vontade dos estilistas ??!
Pois o styling nada mais é do que o tradutor/intérprete da imagem de moda. E na nossa contagem regressiva para o início dos desfiles de verão aqui no Brasil, é boa hora pra falar deles.
E de sua crescente importância. Em se tratando de passarela, os stylists vêm interferindo até mesmo no processo de criação e produção das marcas, entrando bem antes no trabalho, e não apenas na hora da edição dos looks. Como um consultor. Faz bem para a oxigenação do estilista ou da equipe de estilo ter alguém “de fora” com informações mais frescas ou com um olhar distanciado do dia a dia da empresa.
A stylist Melanie Ward, que nos anos 1990 foi responsável por eternizar as campanhas da Calvin Klein com a supermodelo Kate Moss ©Reprodução
Quando a figura do stylist apareceu, em meados dos anos 90, tratava-se apenas de um top produtor de moda. Com força e personalidade para interferir na visão do estilista sobre o que entra (ou não na passarela), e na concepção de cabelo e maquiagem, música, casting e direção de cena.
O styling, portanto, pode salvar ou afundar um desfile.
Num trabalho fotográfico, numa campanha, por exemplo, o stylist vem se tornando mais poderoso do que o fotógrafo, este ser mítico. E no mercado internacional, não são poucos os stylists com cachês mais altos do que os dos profissionais por trás das câmeras.
Como ser um stylist? Deve estar se perguntando o leitor do FFW ávido por fazer parte deste restrito universo? O bom stylist deve ter, além da habilidade de compor os looks, informação de arte, cinema, música. Bastante coragem e persuasão. Ser charmoso, bem vestido, inteligente e engraçado – elementos fundamentais para o bom funcionamento do backstage e para o sucesso do trabalho.
Numa publicidade, o stylist é mais do que necessário, e este deve ter também noções do mercado em geral. Pois a publicidade, obviamente, deve ajudar a marca a vender. Entender o limite entre o comercial e o conceitual, definindo, em uma só imagem, todo o conceito da grife para aquela estação.
Emanuelle Alt, stylist e diretora de moda da “Vogue Paris”, é a responsável pelo resgate da marca Balmain nos anos 2000 ©Reprodução
Há menos stylists no Brasil do que eu gostaria. Até porque eu mesma sou péssima stylist! Não sei dar nem um laço ou fechar um botão, e quando faço edição de moda (o que não é a mesma coisa que styling), gosto mesmo é de juntar equipes talentosas, conceber e imaginar o resultado, e de colocar fogo e energia nas pessoas para que elas possam se jogar e fazer coisas malucas e nunca vistas!
Certa vez, na KEY, assim brifei um stylist: faça algo que você acha que nenhuma outra revista publicaria. Waal. Sonho e pesadelo: liberdade demais também pode enlouquecer um ser humano.
Nicola Formichetti, o stylist mais pop da atualidade: ele escolhe a dedo todos os figurinos da cantora Lady Gaga ©ReproduçãoNa temporada, sempre gosto de acompanhar o trabalho de Pedro Sales, Daniel Ueda, Felipe Veloso, Marcio Banfi, Mauricio Ianês, David Pollak, Monica Florêncio Fernandes… Gosto de ver o exercício dos novos nomes na Casa de Criadores, e a acho chatão quando leio no release que o styling foi feito pela equipe da marca. E aí, gente? Vamos fazer a engrenagem da moda funcionar e ajudar a formar e a consolidar mais profissionais do estilo?
Boa sorte e boa temporada para todos nós!
Palô
>> MATÉRIA REPRODUZIDA DO FFW
Muito satisfeito quando vejo o assunto abordado. Raro e ainda incomum.
Gostei particularmente do seguinte comentário @
boring hunting disse:
‘O bom stylist deve ter, além da habilidade de compor os looks, informação de arte, cinema, música. Bastante coragem e persuasão. Ser charmoso, bem vestido, inteligente e engraçado – elementos fundamentais para o bom funcionamento do backstage e para o sucesso do trabalho.’
Sabiam que eu acredito que a habilidade de compor looks não é de fato a coisa mais importante? Uma vez li em algum lugar uma citação que dizia que ser stylist é como brincar de Deus. Criar almas, personagens, seres, criaturas para o universo ilusório da imagem e transfigurar tudo isso para a moda.
Sem falar que talento, linguagem e bom senso são na minha opinião os primeiros itens dos requisitos para um profissional de sucesso da área. Mas veja bem, tudo isso em questões práticas que não envolvem o questionamento da ciência do belo enquanto moda. Afinal não há repertório cultural, características de personalidade, guarda-roupas, samba, rock ou bossa nova que superem o mal gosto. Vide Brasil.