Já os óculos escuros (Ray-Bans, devidamente falsos) são objeto de desejo para os dançarinos, e por isso foram peça integrante do styling – feito pelo próprio estilista. “Eles acham o máximo”, fala Melk, docemente.
Os materiais desafiavam o olhar dos fashionistas da primeira fila. “Usei tapete de banheiro, tapete para ioga e jogo americano (para mesa). Pensei que essas pessoas não tem muito dinheiro, e para reproduzir esse feeling quis usar materiais do cotidiano. As toalhas de mesa, por exemplo, ninguém nunca presta muita atenção nelas…”. Como transformar isso em algo precioso? “Fiz roupas”, diz, na desconcertante naturalidade de quem faz o que sente.
Outro detalhe é como esses materiais não entram na máquina (muito menos as pastilhas), tudo foi costurado manualmente. O vestido desfilado por Indira levou um mês para ficar pronto, entre feituras e refeituras.
Melk Z-Da e Erika Palomino na redação do FFW ©Priscilla Vilariño/FFW
O tecido que parecia empipocado é na real musseline de seda lixada. “Dava a impressão de ser quente, mas é superleve”, garante. Sobre os brilhos, mais uma sacada: o paetê vem por baixo: “queria o brilho abafado”.
Os recortes e gilets vem do mundo das fitas, comuns a essas danças. E, como ele não quis ser literal, preferiu trabalhar com faixas.
Nesse mesmo caminho de evitar o óbvio e de não cair na armadilha de estilista-nordestino-que-faz-moda-regional, ele tirou dessas roupas a cor (“restou apenas o vermelho”).
E como já havia essa coisa da perda da identidade e da perda da cor, Melk tirou das danças também a música, colocando um poderoso tecno que ornou com a coleção, perfeito na mão de Max Blum.
“Quis me reinventar”, conta, sobre a força e a energia masculina até do desfile, comentando que seu estilo sempre foi ou poético ou “montado”, segundo ele.
A coragem de Melk deu certo, e é disso que a moda vive.
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