domingo, 27 de junho de 2010

"A MORTE DO MACHO"

23/06/2010
Futuro do feminismo depende dos homens
Katrin Bennhold
  • Filhos ou carreira? Uma decisão difícil para as mulheres ...
Em 1965, minha mãe era a única estudante de engenharia em sua classe na Alemanha. Não havia banheiro feminino exceto no porão, onde as faxineiras tinham seus armários e seu professor pedia a ela que encontrasse rapidamente um marido, para que ela não fracassasse nas provas.

O feminismo naquela época era bem claro: tratava-se de mulheres cerrando fileiras para combater o sexismo flagrante, receber educação e ir trabalhar. Era, como minha mãe disse recentemente, “a respeito das mulheres entrarem no mundo dos homens”.

O feminismo do futuro está se transformando em atrair os homens para o universo das mulheres – como pais envolvidos, parceiros iguais no lar e embaixadores da igualdade de gênero, do gabinete à sala da diretoria.

No início do século 21, as mulheres no mundo desenvolvido se veem em um lugar peculiar. Com os meninos fracassando na escola e os homens da classe operária perdendo seus empregos para a crise econômica, acadêmicos preveem não apenas “A Morte do Macho” (“Foreign Policy”, setembro de 2009), mas “O Fim dos Homens” (“The Atlantic”, julho/agosto de 2010).

A realidade é mais cheia de nuances. As mulheres obtêm mais doutorados, mas menos dinheiro. Elas superam em número os homens na força de trabalho, mas ainda são responsáveis por grande parte do trabalho doméstico. Elas tomam as decisões de consumo, mas dirigem apenas 3% das empresas da “Fortune 500”.

“Na teoria, nós agora temos direitos i guais”, suspirou uma alta executiva de uma multinacional francesa, que de forma reveladora pediu anonimato por temer irritar os homens de sua empresa. “Na prática, nós ainda temos bebês.”

No mundo ocidental, a maternidade continua sendo uma barreira para a igualdade de gênero. Até terem filhos, as mulheres jovens atualmente ganham quase o mesmo que os homens e sobem na escada da carreira em um ritmo semelhante. Com os bebês frequentemente vêm interrupções na carreira, trabalho em meio expediente e uma existência corrida em dois turnos que significa o sacrifício dos contatos informais, como as experiências de beber cerveja e formar laços após o expediente, frequentemente cruciais no momento da promoção.

Até o momento, o instinto dos políticos, empresas e mulheres geralmente tem sido aumentar seu foco nas, bem, mulheres.

Muitos países ocidentais protegem os empregos das mulheres durante a licença maternidade e vários oferecem às mães o direito de jornadas reduzidas. No mundo corporativo, as diretoras de recursos humanos fazem lobby por horários de trabalho flexíveis e as diretoras de diversidade organizam programas de apoio às mulheres. Redes de contato de executivas, onde as mulheres podem desenvolver laços, estão crescendo. E em inúmeras conferências de mulheres, estas debatem com outras mulheres a respeito de mulheres e desenvolvem ainda mais laços.

Na melhor das hipóteses, essas iniciativas são boas para dicas e para o moral. Na pior, elas prendem as mulheres ao seu papel de protetoras primárias. O que não fazem é colocar mais mulheres em posições de liderança.

“Nós temos que acordar”, disse Avivah Wittenberg-Cox, presidente-executiva da 20-first, uma consultoria de gestão de gênero. “Nós temos que começar a nos concentrar nos rapazes.”

A única coisa que pode igualar o campo de jogo no trabalho é igualar o campo de jog o em casa. E isso requer uma grande mudança na política pública e na cultura corporativa.

Nos poucos países onde os pais têm licença paternidade em uma escala significativa, essa licença é altamente remunerada e não transferível à mãe. De forma previsível, os nórdicos lideram o caminho. A Islândia, que está mais próxima de atingir igualdade de gênero segundo o índice de desigualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial, foi mais longe, reservando três meses de licença para os pais. Nove entre 10 homens islandeses tiram licença para ficar com seus bebês. Uma legisladora, Drifa Hjartardottir, descreveu a lei de 2000 como “um dos maiores e mais importantes passos voltados à igualdade de gênero desde o direito de votar das mulheres”.

Foi necessário um primeiro-ministro para vender a legislação ao país e foram necessários líderes masculinos na Suécia e Noruega para aprovação de leis semelhantes. Foi um homem que defen deu uma cota para conselho diretor na Noruega, obrigando as empresas a preencherem pelo menos 40% das cadeiras com mulheres.

Uma primeira-ministra espanhola conseguiria nomear um gabinete com 50% de mulheres em 2004?

É improvável, pensa Celia de Anca, da IE Business School em Madri. “Quando você quer mudar uma cultura”, ela disse, “é mais fácil para um representante daquela cultura vender a mudança”.

Basicamente, os homens são feministas mais eficazes, porque isso aumenta a probabilidade de outros homens escutá-los.
Isso também vale para os negócios. Modelos de líderes femininas importam, disse De Anca. Mas modelos masculinos que tiram licença para ficar com seus bebês, encerram o expediente em um horário decente, promovem as mulheres e transmitem a notícia para seus colegas masculinos talvez importem ainda mais.

Mas a mensagem está sendo transmitida.

Na França, por exemplo, o Institut d’Atitudes Politiques está transformando os estudos de gênero parte do currículo básico para todos os alunos a partir de 2011. A Deloitte France está promovendo uma iniciativa neste mês para educar os homens de seu quadro a respeito da diversidade de gênero. Um punhado de empresas, incluindo a gigante nuclear Areva (dirigida por uma mulher), colocou homens encarregados de gênero.

Jean-Michel Monnot, chefe do programa de diversidade europeia da empresa de serviços de alimentação Sodexo, diz que seu gênero é seu maior ativo no convencimento de seus colegas de empresa a promoverem mulheres: “É preciso falar a linguagem dos homens”.

Poucos homens são abertamente sexistas atualmente, ele disse. Mas eles não pensam duas vezes a respeito de marcar reuniões em horários tardios. Alguns que dão a promoção ao sujeito em vez da mãe recente se consideram atenciosos.

Monnot, que até 2007 dirigiu 60 locais de produção, fala por expe riência. Foi necessário um homem e outro fã de esportes para fazer com que ele entendesse a questão, ao explicar para ele em um balcão de bar, certo dia, por que gostava de uma boa mistura de gênero em suas equipes. Ela melhorava o ambiente, dava origem a novas ideias e estava mais de acordo com os clientes da Sodexo.

“Até então, eu não achava que havia um problema e certamente não pensava em mim mesmo como sendo o problema”, disse Monnot. Agora ele viaja até as instalações de sua empresa encorajando os gerentes a encerrarem o expediente às 19h e aos pais recentes a optarem pelo meio expediente “para dar o exemplo”.

Dar à próxima geração fortes figuras paternas não apenas ajudaria a explodir o teto de vidro, como também seria a melhor esperança para esses meninos que fracassam na escola, que carecem de modelos masculinos.

Os homens têm muito a ganhar com a ascensão das mulheres, disse Joanne Dreyfus, uma auditor a da Deloitte, em Paris, apontando que no momento três quartos dos que estão tirando proveito do esquema de horário flexível da empresa são mulheres.

Colocando de outra forma: a fronteira final da liberação das mulheres pode ser a liberação dos homens.nmes

fonte@the new york times

fudeuuu

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