Eu bem poderia _e deveria, até_ fazer um balanço do São Paulo Fashion Week. Mas confesso que depois de três semanas de desfiles (Casa de Criadores, Fashion Rio e SPFW em si), minha cabeça ainda é um pastel de roupas, looks, cores e… as tais tendências.
Então me permiti aqui decantar as 800 coleções vistas (já que ainda temos um tempinho até essas peças chegarem às lojas e o masculino da Europa já está aí na rede) para compartilhar algumas considerações sobre a temida crítica de moda.
A quem ela serve, nos dias de hoje? Para nortear a indústria, principalmente. Já disse, e insisto, que o consumidor final pouco liga se, no pós-desfile, o/a jornalista xis gostou ou não do desfile. E lembrando novamente que um bom desfile não significa uma boa coleção. Quem gosta da marca vai à loja e compra o que lhe agrada.
Nesta temporada de verão 2011, alguma celeuma se deu em relação a algumas resenhas. Parece até que voltamos ao início dos anos 90, quando os estilistas ainda não haviam se acostumado a serem criticados e analisados publicamente, nos jornais (não havia a Internet, lembre-se). Receber um chocho impresso era considerado praticamente ofensa pessoal, e nós (os críticos) passávamos de seis meses a alguns anos até conseguirmos voltar a cumprimentar os estilistas, passada a ira.
Receber críticas não é de fato coisa lá muito agradável. Principalmente por trabalhos suados, sofridos, a custa de muitas horas de labuta, muita energia e algum dinheiro empregado neles. A primeira reação é a da mágoa, da incompreensão, passando depois pela raiva e finalmente pelo desprezo. Poucos são os que, antes da fase raiva, relêem o que foi escrito para um exame de consciência.
O peso de quem escreve importa, claro. Porém, num país de história de moda recente como o Brasil, é preciso dar voz às novas gerações de resenhadores, e deixá-la se exercitar. Ninguém começa acertando sempre, da mesma forma como bons e consolidados estilistas também são passíveis de erros.
Existem maneiras e maneiras de falar mal de uma coleção ou de um desfile. A responsabilidade e o respeito devem fazer parte da cartilha de quem escreve, como o bom português. Um jornalista sério de moda hoje deve ler muito (jornais, sites e boa literatura), ver exposições de arte; garimpar em locadoras; fuçar no You-tube; ouvir músicas novas; ter referências off-fashion. Se possível, viajar; se possível, freqüentar; se possível, se jogar na vida e em novas experiências. Exercitar a humildade e a tolerância. A autocrítica. Levar seu trabalho a sério todo o tempo sem se levar a sério todo o tempo.
Quanto aos leitores, menos pão e circo, por favor. É bobo respeitar (somente) críticos que detonam sem educação, adjetivando com leviandade ou aqueles que almejam visibilidade (ainda que tardia), os engenheiros sensacionalistas das obras prontas, aqueles que cultuam o chiste e o deboche em mesas de restaurante, salas de imprensa ou mesmo no twitter.
Cabe a todos nós aqui citados, portanto, conduzirmos uma nova etapa da moda brasileira (e não apenas a quem organiza os eventos e detém poderes). Sem patrulhas, fuxicos, ranços de autoritarismo ou hipocrisias de corredor.
Aqui neste espaço, estamos fazendo a nossa parte.
Erika Palomino
fonte@FFWBlog
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